| Thalita Duarte, Arru(ação)#3 Perforgrafia Edição#3 Vila Galvão_Guarulhos/SP |
Eu vou à cidade hoje à tarde
Tomar um chá de realidade e aventura
Porque eu quero ir pra rua
Eu quero ir pra rua
Tomar a rua
(Paula Toller)
Por Diego Marques
Colaboração Bárbara Kanashiro
Performadores atravessados por um emaranhado de linhas que territorializam o espaço urbano transformam-se em cartógrafos na medida em que se emaranham em meio a estas, a fim de desterritorializar-se pelo mesmo. Neste entre, emerge um híbrido - o Perfógrafo. Composto de performer e cartógrafo, ele surge conforme busca reterritorializar-se no espaço público reapropriando-se simbólicamente deste, atravessando este emaranhado que o atravessa, traçando cartografias subjetivas, afetivas e performáticas na metrópole.
Ao perfografar, ele esbarra em Linhas duras que territorializam a cidade através de oposições como, por exemplo, público e privado. Geralmente traçadas a fim de assegurar a livre circulação de mercadorias pelo tecido social e urbano, estas linhas segmentarias normatizam e reificam a tudo e a todos aos quais desenham. É no desejo de flexibilizá-la que o Perfógrafo atua nos interstícios da cotidianidade da cidade.
Deste modo, interessa ao Perfógrafo derivar pelas Linhas flexíveis traçadas na megalópole, nas zonas fronteiriças entre corpo e ambiente, entre arte e vida, conforme experimenta as possibilidades de afeto gerados em seus encontros e desencontros na/com a cidade. É por meio desta instabilidade que ele desterritorializa-se, erra pelo espaço urbano, experimentando-o com/em toda sua corporeidade, para além da visualidade imperiosa típica das cidades espetacularizadas.
É neste momento em que, tomado pelo aqui – agora, pela irreversibilidade do espaço-tempo, o Perfógrafo faz de si mesmo um agenciador de afetos, um ritualizador do instante presente. Entre perder sentido e fazer sentido, ele percebe na permeabilidade de seu corpo vibrátil uma cidade em devir, subjetiva, latente, pulsante, desejosa para ser inventada, performada, cartografada.
Eis que surgem então, as Linhas de fuga – efêmeras e nomadizantes, elas irrompem desenhando o extra cotidiano. É por meio de Leitmotivs que o Perfógrafo escolhe dar língua aos afetos que seu corpo cartografa no espaço urbano e no qual performa a cidade em devir, na qual vivencia a ambivalência entre o tempo espaço real e o tempo espaço ficcional, explorando suas possíveis liminaridades. Desta maneira, no emaranhado de linhas duras, flexíveis e fugazes, sempre imanentes umas as outras, o Perfógrafo faz com que arte e vida confundam-se nos espaços intersticiais da cotidianidade cidatina, à medida que ele se reterritorializa simbólicamente nesta, perfografando e borrando as dicotomias no/do espaço urbano, conforme reafirma o sentido público do mesmo.
Deste modo, o híbrido performance e cartografia implica para o Perfógrafo a possibilidade de desenhar uma outra lógica de uso das cidades na contemporaneidade. Gentrificados e museificados, os grandes centros urbanos encontram na urbanização da experiência artística a possibilidade de flexibilização das linhas segmentárias pelas quais estão arregimentados. Ao negar a monumentabilidade da arte característica (em maior ou menor nível de complexidade) as práticas artísticas que tomam o espaço urbano, a perfografia opta pela processualidade, pela efemeridade e pelo hibridismo intrínseco as ações performáticas, como possibilidade de perfografar linhas de fuga pela cidade, através das quais possamos não fugir do mundo tal qual ele está, mas sim, perfografar tantos outros mundos, quanto forem possíveis.