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Grampo, Bárbara Kanashiro, Natal/RN, 2012 |
Por Bárbara Kanashiro
Condutor/ 1ª
Testemunha: ZENILSON GONZAGA DA SILVA, Sd/PM identidade nº 12.269 PM/RN, lotado na 2 ª CIA DO 1º BPM, nesta capital, Soldado da PM, RG/PM:
14.964, lotado na CIPTUR, nesta capital.
VERSÃO: QUE encontrava-se de serviço
no trailer da C&A, oportunidade em que presenciou um grupo de jovens no calçadão da av. João Pessoa, em direção às Lojas Americanas, na av. Rio Branco, ocasião em que
entre eles estava a ora autora do fato sem os trajes superiores, com os seios à mostra; QUE na ocasião, populares acompanhados de crianças,
indignados, vieram informar acerca do fato, dizendo que ela estaria
completamente nua, motivo pelo qual seguiu direção até ela
realizar abordagem; QUE referidos cidadãos disseram-lhe que a autora do fato
estaria na loja Otoch, ocasião em que seguiu ao local na companhia
do Sd/ PM Jariano, oportunidade em que a encontrou, desta feita, totalmente
desnuda; QUE na ocasião providenciou para que a jovem fosse coberta e a encaminhou até o
trailer, local onde acionou oficial de área 1, Sub-tenente Agostinho, a fim de
noticiar o fato ocorrido, o qual de lá auxiliou na condução
da autora do fato até
esta delegacia; QUE ela, autora do fato, alegou em sua
defesa que tinha autorização
de órgãos públicos
para sua conduta; QUE nada mais disse.
A rua não é lugar
pra mulher. Mulher na rua fica falada. Mulher da rua é pra se
vender. Mulher de rua, então, piorou. Estava de saia curta,
coitada, não deu outra. De uma clausura a outra, só acompanhada
do marido. É
para o seu próprio bem. Você não
quer que algo de mal lhe aconteça por aí, quer?
Mulher da rua, mulher perdida, mulher rodada,
mulher da zona, mulher do mundo, mulher pública, mulher de vida fácil,
garota de programa, meretriz, prostituta, rameira, cachorra, puta, rapariga,
travesti, biscate, mulher da vida, piranha, vadia, vagabunda, quenga, mulher de
esquina, bicha, devassa, mulher errante, mundana, mulher do povo, sapa,
pistoleira. A rua não é
lugar pra mulher. Mas não só pra
mulher. Quem faz do corpo seu desejo tampouco tem lugar na rua.
Acontece que o desejo não cabe
num só corpo e precisa se espraiar. Conhecer outras paragens. QUEM ARRANCA do
peito seu coração para a noite deseja a rosa. Quem arranca do peito seu coração para a noite e o atira ao alto não erra o alvo. Vai ao encontro do desconhecido, da alteridade radical, da
alma encantadora das ruas.
A mulher que faz da rua o seu lugar põe
o corpo à prova. Caminhar oferecendo grampos na rua com seios, nádegas e vagina
à mostra configura crime de ato obsceno de acordo com o Artigo 233 do código
penal brasileiro. Por isso eu miro os exemplos das
mulheres de rua, das mulheres da rua, das mulheres na rua. Por isso, em noites
quentes, caminho munida de grampos pelas avenidas.