domingo, 10 de abril de 2011

ARRU(AÇÕES): Corpo + Ação + Tempo + Espaço = Tramacidades.

Arru(ações), Denise Rachel, Largo São José Do Belém, Abril de 2011.

Por Bárbara Kanashiro e Diego Marques.

Este é um exercício de reflexão conjunta sobre as experimentações do Coletivo Parabelo em Performance dialogando com espaços não convencionais. A partir da análise da espetacularização do espaço público, através da atualização do contrato dinheiro/mercadoria e da conseqüente redução da experiência humana em vivências reificadas, investigamos possibilidades de interferir artisticamente no mesmo, por meio da prática da Performance de Ruptura em confluência com a Intervenção Urbana e a Arte Contextual:

O termo “Arte Contextual” refere-se a todas as formas de expressão artística que diferem da obra de arte tradicional: arte de intervenção e arte engajada de caráter ativista (happening em espaço público, manobras), arte que investe o espaço urbano ou a paisagem (performances de rua, land art...), as ditas estéticas participativas e ativas no campo da economia, da mídia ou do espetáculo. [...] A arte contextual opta então pelo estabelecimento de uma ligação direta entre obra e realidade, sem intermediários.¹

A esta proposição denominamos Arru(ações) -  ações que costuram o tecido sanguíneo, tecido social e o tecido urbano, tecidos estes que podemos pensar como conjuntos de células, comportamentos e arquiteturas, constantemente tensionados pelas contradições determinadas pelo capitalismo no cotidiano. No intuito de identificar estas tensões, lançamos mão de exercícios para percepção destas, em seus mais diversos níveis de complexidade e, consequentemente, experimentamos procedimentos de criação em Performance, que possibilitem a intersecção entre corpo, espaço e tempo.

Desta forma, cabide, janela, tailleur, corda, teclado, papel higiênico e caixa de papelão têm sua função cotidiana resignificada pela ação destes no corpo e vice e versa, assim como, também modificam a percepção do tempo-espaço ao estabelecer relação com o contexto: um cabide transforma o homem em coisa; papel higiênico, caixa de papelão e um tailleur vermelho são metáforas de um Quixote pós-moderno, problematizando assim, uma série de questões imanentes ao local da Arru(ação), o Largo São José do Belém.

Localizado na Zona Leste de São Paulo, o bairro do Belém tem sido valorizado diante da especulação imobiliária, que ao mesmo tempo em que aquece um setor da economia da região, vulnerabiliza a população em situação de rua, que vira alvo da hostilidade da classe média emergente a qual cerceia a mesma com medidas higienistas, de forma que público e privado, sagrado e profano, visibilidade e invisibilidade tornam-se a tônica da dinâmica social da região e concomitantemente os leitmotivs das ações propostas pelo Coletivo Parabelo no bairro.

Cientes de que estes binômios não esgotam a pluralidade de significações que podemos atribuir a um determinado contexto, dada sua complexidade específica, seguimos em frente, investigando possibilidades de romper artisticamente com estas formas de espetacularização da experiência cotidiana, a fim de estabelecer posições permanentemente criticas aos diversos âmbitos de subsistência, sobretudo, aos que dizem respeito à subsistência artística, poética e intelectual.  

 1.            ARDENNE, Paul. Um art contextuel, - Création artistique em milieu urbain, em situation d´intervention, de participation. Paris: Flammarion, 2004, pp. 11-12.