| Bárbara Kanashiro, Narrativas Públicas, Maio (2011) |
Por Bárbara Kanashiro.
De acordo com o Dicionário Contemporâneo da Língua Portuguesa – Caldas Aulete, a palavra Arruaça significa “motim de arruadores, desordem nas ruas”. Pensando nessa definição e em diálogo com as demais ações realizadas pelo Coletivo Parabelo, propomos um conceito que reflete teoria e prática: Arru(ação).
Pode-se dizer que o conceito de Arru(ação) conversa com a Performance de Ruptura de Tony Perucci, a partir de sua leitura sobre a prática de performance política de rua. No artigo What the fuck is that?The poetics of ruptural performance, o autor observa que a sociedade do espetáculo é caracterizada pelo acúmulo de espetáculos, relações sociais entre as pessoas mediadas por imagens (Guy Debord). Mais do que isto, “é o próprio coração da irrealidade da sociedade real” que provoca a fratura entre o fazer e o contemplar.
Entretanto, é notável a emergência de ações e coletivos contemporâneos que propõe uma alteração nesse paradigma, através de proposições poéticas que se aproxima do que Stephen Ducombe chama de Espetáculo Ético. O autor problematiza o ativismo político tradicional e, em contrapartida, propõe o Espetáculo Ético como protesto ao próprio espetáculo. Nas palavras do autor, este será:
participativo: sonho que o público pode modelar e dar forma por si mesmo/Será ativo: espetáculo que funciona apenas se as pessoas puderem criá-lo/Será aberto: criando espaços para formular questões e deixando silêncios para a formação de respostas/ Será transparente: sonhos que as pessoas sabem que são sonhos, mas que ainda possuem o poder de atrair e inspirar/ E, finalmente, não irá encobrir ou substituir a realidade e a verdade, mas antes irá denunciá-la e ampliá-la
Utilizando alguns pressupostos desse esquema, Perucci conceitua performances de ruptura como eventos em devir, que produzem interferência, confrontação e confusão na ordem social. Deste modo, uma das questões latentes é justamente o escape à “tirania do sentido”, ou seja, a realização de performances que possuam fronteiras instáveis e não-fixadas entre o real e o ficcional, possibilitando múltiplas leituras a seu interlocutor.
Essa acepção interessa particularmente ao Coletivo Parabelo, pois percebemos que ações cotidianas como pular corda ou caminhar em ritmos alternados em espaços públicos não só provocam interferência nas práticas habituais da vida diária, mas podem ser lidas como performance. Isto fica evidente quando transeuntes questionam o porquê dessas ações, ressignificando-as de acordo com o tempo-espaço real.
Pensando refletir essas questões, na perspectiva de criar uma outra modalidade de experiência, desobstruída da massificação do sensível imposta pelo capital, buscamos desestabilizar as relações que permeiam o tecido sanguíneo, social e urbano, através da criação de performances e happenings coletivos como os supracitados que se desdobram em ações individuais. Ao entendermos o ato artístico como possibilidade de uma Zona Autônoma Temporária como propõe Hakim Bey ou uma Ilha de Desordem como sugere Heiner Muller, o Coletivo Parabelo, em busca do caos em meio à ordem vigente, propõe o seu motim de arruadores, desordem nas ruas: Arru(ação).