terça-feira, 26 de julho de 2011

Beiçola à Deriva.

Arru(ação)#1, Perfografia Edição #2 Interlagos_SP


"Cidadãos de todos os países, derivem! Dissolvam as fronteiras e destruam os muros de todos os tipos, das prisões e asilos aos conformismos residenciais fechados, dos shoppings centers e conjuntos habitacionais modernos."


Por Bárbara Kanashiro

O Coletivo Parabelo inicia sua segunda edição do Perfografia no bairro Jardim Primavera, localizado na região do Grajaú, zona sul de São Paulo através das suas Arru(ações). Com o intuito de criar uma cartografia performática do mesmo, iniciamos um trabalho de percepção e exploração desse espaço urbano por intermédio de um conjunto de práticas consonantes com o pensamento situacionista.

A Internacional Situacionista, fundada em 1957, criticava a ideia de arquitetura, urbanismo e planejamento em geral como planificação funcional e racional da cidade, modelos que representam o modus operandi capitalista baseado na espetacularização generalizada. Em contrapartida, os Situacionistas propunham uma abordagem participacionista do espaço urbano, através do que denominaram como Urbanismo Unitário : teoria do emprego conjunto de artes e técnicas que concorrem para a construção integral de um ambiente em ligação dinâmica com experiências de comportamento.

Dentre as técnicas citadas acima, podemos destacar aquelas por meio das quais os Situacionistas buscavam investigar os efeitos do meio (cidade) sobre os indivíduos (cidadãos) e vice e versa.  A chamada psicogeografia podia ser estuda através das Derivas ou mesmo por meio das Situações Contruídas, Paola Berenstein Jacques cita Guy Debord para explicar esse conceito:

Nossa ideia central é a construção de situações, isto é, a construção concreta de ambiências momentâneas da vida, e sua transformação em uma qualidade passional superior. Devemos elaborar uma intervenção ordenada sobre os fatores complexos dos dois grandes componentes que interagem continuamente: o cenário material da vida; e os comportamentos que ele provoca e que o alteram. (2003)

            Em outras palavras, a experiência afetiva individual não estaria separada do ambiente, e sim integrada organicamente a ele. É possível exemplificar essa afirmação através da Deriva com olhos vendados realizada na Praça João Beiçola da Silva e nas suas imediações. Esta técnica sugere propõe a apropriação do espaço urbano pelo praticante através da ação do andar sem rumo, mapeando os aspectos psicológicos, sensoriais e emocionais durante a errância através do seu corpo. Se por um lado a ausência de visão pode dificultar o deslocamento pelo espaço, por outro, potencializa a percepção da relação entre elementos urbanísticos, arquitetônicos, na constituição de diversas ambiências.

            A partir da prática da Deriva, cada performer concebeu um mapa afetivo do Jd. Primavera. Interessante observar as singularidades das cartografias de cada performer, que performadas, evidenciaram a complexidade e a singularidade da subjetividade de um indivíduo (cidadão) em relação com o seu meio (cidade), o que leva-me a pensar nas implicações desta metrópole em nossas relações intersubjetivas, ao mesmo tempo em que, penso em possibilidades de, no limite imposto pelo capital, ativar a participação do sujeito na (des) construção da cidade existente, para a (re) construção do porvir.