segunda-feira, 4 de maio de 2015

Tão perto, tão longe: sobre como se visita o outro que reside em nós

Blablação, Coletivo Parabelo, "Intervenção Urbana e Educação" Unesp/Barra Funda/2015

Por Bárbara Kanashiro
Perfomeira Residente das Residências Nômades 
UNESP/Barra Funda e CIEJA/Ermelino Matarazzo

No decorrer do que denominamos Residência Nômade do Instituto de Artes da Unesp, na Barra Funda, uma residência artística proposta pelo Coletivo Parabelo, recebemos visitantes de múltiplas localidades - estudantes e docentes do curso de licenciatura em teatro da Universidade Federal do Ceará, estudantes do curso do bacharelado em artes cênicas do IA/Unesp e artistas do grupo de teatro Buraco d ́Oráculo - em um evento que ocorreu no mês de abril no IA/Unesp, o ''Intervenção Urbana e Educação''. Dessa forma, abre-se a Residência Nômade para que esses visitantes possam realizar um Mutirão Performático junto ao Coletivo Parabelo, participando de seu processo de criação por um dia a partir da relação entre visitante e residente.
Algumas questões emergiram nessa relação. Se partimos da premissa de que o mutirão implica em um trabalho em comum, de comprometimento e doação de si ao outro, como  se compõe com o outro urbano? Como performamos juntos? Carregando essas e outras inquietações, partimos sem direção pelas imediações da Barra Funda num dia nublado.
O segredo da busca é que não se acha, diria o poeta. O caminho em direção ao outro é uma viagem a infinitos mundos onde o que se procura é o próprio caminhar. Aquele que caminha, não raro, desestabiliza certezas ao perceber o escuro em meio à luz de seu tempo, sendo assim capaz de interpelá-lo. A ação de compor e de se por com a cidade, a composição urbana convoca a perturbação dos sentidos, a alteração de estados corporais, a iminência de poéticas do cotidiano no corpo a corpo do sujeito com a pólis. Ação política que exige ao mesmo tempo uma atitude ética perante a vida, para não colocar a alteridade à sombra da cidadania.

No período da noite, quatro integrantes do Coletivo Parabelo realizaram uma Blablação como palestra: a ação de ler artigos acadêmicos e narrativas errantes ao mesmo tempo em que abocanha um punhado de macarrão de letrinhas e vomita na mesa. Uma conversa se iniciou. Os corpos urbanos erráticos do artigo acadêmico foram associados às formas de vida dos coletores de material reciclável no Ceará, de como fazem do seu trabalho um modo de existir e resistir na cidade. As tensões que perpassam as Intervenções Urbanas numa escola nordestina pareciam familiares àquelas que se apresentam nas Performances Urbanas de uma universidade católica do sudeste. Ao final de um dia de intensidades à flor da pele, o dito outro urbano adquiriu rosto, nome, feição, sotaque. Infinita conjunção de paisagens e tonalidades de afetos que configuram singularidades, percebendo que o outro está tão perto e tão longe quanto a capacidade de perceber e interpelar o escuro.