Blablação, Coletivo Parabelo, "Intervenção Urbana e Educação" Unesp/Barra Funda/2015 |
Por Bárbara Kanashiro
Perfomeira Residente das Residências Nômades
UNESP/Barra Funda e CIEJA/Ermelino Matarazzo
No decorrer do que
denominamos Residência Nômade do Instituto
de Artes da Unesp, na Barra Funda, uma residência artística proposta pelo
Coletivo Parabelo, recebemos visitantes de múltiplas localidades
- estudantes e docentes do curso de licenciatura em teatro da Universidade
Federal do Ceará, estudantes do
curso do bacharelado em artes cênicas do IA/Unesp e
artistas do grupo de teatro Buraco d ́Oráculo - em um evento
que ocorreu no mês de abril no IA/Unesp, o ''Intervenção Urbana e Educação''. Dessa forma, abre-se a Residência Nômade para que esses
visitantes possam realizar um Mutirão Performático junto ao Coletivo Parabelo, participando de seu
processo de criação por um dia a
partir da relação entre visitante e
residente.
Algumas questões emergiram nessa
relação. Se partimos da premissa
de que o mutirão implica em um
trabalho em comum, de comprometimento e doação de si ao outro,
como se compõe com o outro
urbano? Como performamos juntos? Carregando essas e outras inquietações, partimos sem
direção pelas imediações da Barra Funda
num dia nublado.
O segredo da busca é que não se acha, diria o
poeta. O caminho em direção ao outro é uma viagem a infinitos mundos onde o
que se procura é o próprio caminhar.
Aquele que caminha, não raro, desestabiliza certezas ao perceber o escuro em meio
à luz de seu tempo,
sendo assim capaz de interpelá-lo. A ação de compor e de se por com a cidade, a composição urbana convoca a
perturbação dos sentidos, a
alteração de estados
corporais, a iminência de poéticas do cotidiano
no corpo a corpo do sujeito com a pólis. Ação política que exige ao mesmo tempo uma atitude ética
perante a vida, para não colocar a alteridade à
sombra
da cidadania.
No
período
da noite, quatro integrantes do Coletivo Parabelo realizaram uma Blablação
como
palestra: a ação de ler
artigos acadêmicos
e narrativas errantes ao mesmo tempo em que abocanha um punhado
de macarrão de letrinhas e
vomita na mesa. Uma conversa se iniciou. Os corpos urbanos erráticos do artigo
acadêmico foram associados às formas de vida
dos coletores de material reciclável no Ceará, de como fazem do
seu trabalho um modo de existir e resistir na cidade. As tensões que perpassam as
Intervenções Urbanas numa
escola nordestina pareciam familiares àquelas que se
apresentam nas Performances Urbanas de uma universidade católica do sudeste. Ao
final de um dia de intensidades à flor da pele, o dito outro urbano
adquiriu rosto, nome, feição, sotaque. Infinita conjunção de paisagens e
tonalidades de afetos que configuram singularidades, percebendo que o outro está tão perto e tão longe quanto a
capacidade de perceber e interpelar o escuro.